Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

23 de julho de 2014

Deve-se ser moderado em tudo, até na própria moderação

Há momentos em que o espírito temperante está disposto à ação, e outros ao repouso, momentos em que sua alma aspira aos píncaros austeros e outros aos vales risonhos. Mas, porque é equilibrado, ele sabe que sua vida foi feita para os horizontes sublimes e gravíssimos que a Fé lhe revela, na alternativa entre as glórias régias do Céu e a tragédia eterna do inferno, pondo em jogo a cada instante o Sangue de Cristo. Ele sabe que a vida tem momentos de prazer e horas de luta, momentos de repouso e momentos de trabalho, de dor e de alegria, de intimidade e de solenidade. O homem equilibrado não ignora que a própria sanidade de sua alma pede estas alternativas. E por isto ele não quererá passar a vida toda num só destes climas, no "heróico" ou no "moderado".

Mais ainda. Seus estados de espírito não ficarão à mercê dos ventos indecisos de sua sensibilidade. O homem ponderado sabe portar-se à altura das circunstâncias, não mostrando uma grandiloqüência ridícula nas ocasiões triviais, nem uma trivialidade estulta nas grandes situações.

Isto que se diz de um homem temperante também se diz de um povo temperante. Quando um povo está no seu apogeu, não revela estes grandes desequilíbrios de alma, estas fomes e estes fastios mentais imoderados, parecidos com a fome e o fastio dos doentes. É o que se pode dizer da Inglaterra vitoriana, por exemplo, igualmente esplêndida na grandeza do Império e no encanto de sua vida privada.

Evidentemente, não vivemos em um século de equilíbrio mental. E se algum leitor pensa o contrário estremeça, pois é algum desequilíbrio em sua alma, que o leva a enganar-se tão complemente a respeito de um fato evidente como o sol.

O resultado é que temos de tudo, em matéria de intemperança. Temos "heróicos" intemperantes, como "moderados" intemperantes, e temos toda a gama intermediária. Pois o teclado da intemperança tem mil notas.

Destas intemperanças, a "moderada" parece entretanto ser hoje, entre nós, a mais generalizada.

Em boa parte pelo menos, é isto natural. Pois a guerra deu para saciar de grandezas dramáticas e melodramáticas. (...) Ora, quanto esta tendência "moderada" se vai tornando preponderante, é fácil ver.

Nos artigos de jornal, nos discursos, nas conferências, até nas conversas particulares, as opiniões que se afirmam com mais desembaraço, mais ênfase, mais eco são sempre as "equilibradas", as "moderadas", as de meio termo. Todo mundo que ataca uma opinião procura denunciá-la como "extremada". E seus defensores procuram esquivar-se desta pecha como se disso dependesse o êxito de sua causa.

Fonte: Moderação, moderação: slogan que enche o Ocidente, Catolicismo Nº 38, fevereiro de 1954

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